24.6.13

Matéria-denúncia sobre a 2ª Brasil Sul Comic Con

O principal objetivo desse blog sempre foi ajudar a HQB que, como todos sabem, raramente recebe patrocínio, sobrevivendo apenas do esforço, dedicação e, muitas vezes, investimento financeiro dos próprios artistas. De uns tempos pra cá, eventos de quadrinhos se tornaram comuns Brasil afora, abrindo as portas de editoras do Brasil e de outros países para os artistas que se destacam no mercado. Mas se para alguns profissionais os eventos de HQ se tornaram motivo de estímulo e alegria, para outros causaram apenas constrangimento e frustração ao se depararem com falta de organização, descaso e amadorismo por parte dos organizadores. Abaixo, vocês lerão um texto elaborado pelo quadrinhista e editor Carlos Henry e depoimentos de artistas convidados a participar do malfadado evento denominado 2º BRASIL SUL COMIC CON, realizado em janeiro de 2013 em Porto Alegre-RS.

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"Caros Amigos.
Sou quadrinhista, autor do Lobo-Guará, editor do selo Excelsior Webcomics e junto com os também quadrinhistas Denílson Reis (grupo Quadrante do Sul) e Fernando Damasio, fomos convidados para participar em janeiro de 2013 da “2ª BRASIL SUL COMIC CON”, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Fomos convidados pelo curador Leonardo Albuquerque.
Este “evento”, de tão precário, é uma vergonha e nem pode ser considerado no meio de outros das HQs. Nós três (Denílson, Fernando e eu) "comemos o pão que o Diabo amassou”, de tanto descaso, tanto para conosco, quanto para o público. Tudo está relatado aqui.
Em resumo: muito descaso, desde alimentação e condução ao evento, falta de comunicação do curador no Hotel com os convidados palestrantes. Prometeu-se que o pagamento das palestras de cada autor seria efetuado dentro de 15 dias. Só que passado já 5 meses, os autores NADA receberam. 
O curador, Leonardo Albuquerque joga a culpa na Prefeitura de Porto Alegre, que também não se manifesta. Diz somente que “o processo contra a Prefeitura de Porto Alegre está tramitando na justiça, para pagar o artistas”. E só dá informações quando os artistas prejudicados entram em contato. E assim vai se levando infinitamente...
Gostaríamos que este descaso não passasse em branco e do apoio dos colegas da classe quadrinhística, divulgando em sites, blogs, facebook, fazendo matérias, etc... Também para que outros autores não caiam nesta furada, agindo de boa fé.
Obrigado pela atenção!

DEPOIMENTOS DOS ARTISTAS PALESTRANTES:

Alex Doepre, Carlos Henry e Denilson Reis.
DENILSON REIS, roteirista e editor do fanzine “TCHÊ”, "QUADRANTE SUL” e “PERYC, O MERCENÁRIO”
“Em novembro fui convidado pelo Leonardo de Albuquerque para participar de um evento que ele denominou de 2ª Brasil Sul ComicCon. Comentou que estava organizando um grande evento, "o maior do Sul do país" - nas palavras dele - e queria que eu e o Grupo Quadrante Sul, que somos responsáveis pelo Mutação na Feira do Livro de Porto Alegre participássemos. Chegou falando da vinda de Mike Deodato e que teríamos um cachê de participação. Aceitei participar, até para poder estar em um "grande" evento e poder divulgar o meu trabalho. Tudo muito bom, tudo muito bem e até fiz um material de divulgação nos sites de quadrinhos e tal. Chegando no dia do "evento" percebi que estava a maior desorganização. Não havia um local adequado nos esperando, tivemos que montar tudo por nossa conta e ir se arranjando nos espaço. Procurei fazer o melhor possível, mas logo percebi que não havia nenhuma divulgação e o público sequer sabia o que estava acontecendo por ali. Ou seja, seria um "evento" sem a mínima divulgação. E como poderia ter público se as pessoas sequer sabiam o que estava acontecendo por ali? Além da infraestrutura que foi montada na hora e a falta de divulgação, também não havia perspectiva de receber a ajuda de custo para o deslocamento ao local e a alimentação. Teve um dia que tivemos que vestir uma camiseta de voluntário do evento, embora fossemos convidados do mesmo, para poder pegar uns “pilas” para comprar um lanche, muito chato e constrangedor. De qualquer forma, fui correto e participei do evento conforme o combinado, até para poder ter direito a receber o cachê combinado, e olha que não era nenhuma fortuna, apenas uns "pilas" para poder imprimir depois alguns fanzines. O maior problema para mim é que até o momento não vi um centavo do que foi combinado e o Senhor Leonardo andou postando umas mensagens dizendo que não vai mais se manifestar sobre o assunto e que tudo foi parar na justiça, sendo que não temos maiores e nem menores informações sobre o tal processo que a associação da qual o Leonardo faz parte fez contra a Prefeitura de Porto Alegre, que ele diz ser a vilã deste problema. Tudo muito lamentável!”

Carlos Henry e Cris Peters.
CRIS PETERS, colorista da Marvel Comics
“Muitas são as pessoas que podem lhe oferecer convites para palestrar ou participar de eventos, e até mesmo lhe oferecem um cachê para que participes. Mas como acreditar, ou pressentir que na verdade esse convite não deve ser aceito? Como saber se o tal evento citado não será um vínculo desvantajoso? Como saber se não irão lhe passar a perna?
Venho aqui contar uma "historinha" e espero que seus detalhes ajudem todos a detectar uma furada.
Fui convidada para um tal "evento". Tudo nele me cheirou a furada desde o princípio. Mas mesmo assim quis dar o benefício da dúvida, infelizmente meu primeiro instinto estava mais do que correto. O evento foi amador, desorganizado e o meu prometido cachê não foi e nem será pago.
Eis as dicas que recebi de que o evento não era bem organizado:
- Dica #1: Ao ser convidada recebi um panfleto extremamente amador em material copiado a xerox amassado (o que acaba denotando falta de capricho do organizador);
- Dica #2: Ao explicar que teria de cobrar um cachê, recebi uma resposta positiva e rápida demais. O organizador não tentou ao menos negociar os valores. Sabemos que quem precisa administrar uma verba em um evento não pode dizer sim a qualquer exigência de convidado;
- Dica #3: a poucos dias do evento, o organizador me comunica que eu faria DUAS participações no evento. Sendo que meu cachê anteriormente combinado era para somente UMA participação. Como estava ocupada com meu trabalho, não pude discutir esse detalhe com ele e deixei por isso mesmo;
- Dica #4: Ao chegar ao local na data do evento para entregar meu material de exposição, nada estava montado ainda. Deixei meu material e expliquei como deveria ser exposto, pois possuía uma ordem. O organizador nítidamente não prestou atenção nas minhas instruções;
- Dica #5: A tal vernissage de abertura do evento não começou no horário determinado. Quando cheguei ao local, a montagem do evento estava amadora e não encontrei ninguém da organização. Ao ver meus trabalhos na exposição, eles estavam expostos na ordem errada. Neste momento, eu aceitei que aquele evento era uma furada e que eu não seria paga.
- Dica #6: Mesmo depois disso apareci nas duas palestras que participaria. Tenho minha palavra, e iria cumpri-la. Durante as minhas duas palestras (vazias) o organizador ficou abordando pessoas que passavam pelo local tentando convencê-las a assistirem. Foi bastante desagradável. 
Enfim, no final da história, o organizador inventou uma historinha de que ele estava no meio de um processo judicial para conseguir verba para pagar os cachês, mas eu já tinha aceitado que não receberia nada. Obviamente não irei aceitar mais nenhum convite dessa mesma pessoa.
Eu recebi todos os sinais, fui em direção a parede sabendo que ela estava se aproximando e mesmo assim não desviei. Tive boa fé e isso não é um erro. Não perdi tanto tempo, não tive de viajar e conheci algumas pessoas legais.
A verdade é que é sempre importante averiguarmos o evento antes de aceitarmos um convite. Hoje, com o Facebook, podemos verificar os amigos que temos em comum com os organizadores para termos certeza de que não se trata de algum amador. Normalmente eventos com porte suficiente para pagar cachê tem site na internet e informações para serem investigadas pelo Google.
Acontece, infelizmente. Mas quem deve se sentir mal com isso sou eu por não ter sido paga, ou o organizador do evento por ter caloteado todo mundo?

Fernando Damasia, Professor Athos e Carlos Henry.
FERNANDO DAMASIO, desenhista de “RIP REGAN, POWERMAN” e “DANGER: HIGH VOLTAGE”
No começo desse ano fui convidado junto com outros artistas a participar de um evento em Porto Alegre, Intitulado de 2º Brasil Sul Comiccon. Nesse convite constava que não gastaria com nada, no hotel teria café, almoço e jantar, teríamos transporte até o evento e cada artista receberia um cachê, com o valor combinado com o organizador e com a Prefeitura. Infelizmente, nesse país, “Ordem e Progresso” só se encontra na bandeira. Fomos enganados! No hotel só teria café da manhã, não havia um transporte até o evento e não nos foi pago o cachê, viajamos despreparados apenas com dinheiro para pequenas compras no evento como: revistas, lanche, etc. No meu caso, tive que me juntar ao meu editor e amigo Carlos Henry para podermos nos alimentar, comíamos um pouco a mais no café para não dar fome na hora do almoço e quando chegávamos do evento, procuramos um mercado e rachávamos pizza, outro dia frango com polenta, e todos os dias tínhamos que dividir o táxi também. Conhecemos um amigo, Professor Athos, que percebendo nossa situação e também tinha palestras a ministrar no evento, ele pagava o táxi para ir ao evento e nos convidava para ir com ele. Passaram-se 5 meses e nosso cachê não foi pago, o organizador só nos passa que a prefeitura não teria verba, e que estão processando a prefeitura. O organizador não passa o número do processo, nem o nome do advogado. Se existe esse processo, nosso nome está no meio, é nosso direito saber como está e é dever da organização nos passar alguma coisa concreta e não apenas palavras. Fomos prejudicados, deixamos trabalhos de lado para poder honrar esse compromisso com a organização e com a prefeitura de Porto Alegre, é nosso trabalho!!! Só queremos o que é nosso por direito, nada mais. 

Carlos Henry: insatisfação com a organização do evento.
CARLOS HENRY, criador do “LOBO-GUARÁ”, “CITY OF DREAMS” e editor do Selo “EXCELSIOR”
O Brasil Sul ComicCon na verdade, NÃO aconteceu!! Faltou organização, conhecimento de causa, produção, estrutura... tudo! O curador da exposição, que aconteceria dentro do Fórum Social Mundial, era Leonardo Albuquerque, que a toda hora culpava a Prefeitura de Porto Alegre pela falta de estrutura (isso, já tendo várias reuniões anteriores com a Prefeitura). Vamos por partes:
O EVENTO(?): Chamar de ComicCon um evento que tem 2 mesas e 2 placas de madeiras como expositores, com um caricaturista (Luca Risi) e outro só com um grupo (Quadrante Sul), sem editoras, nem gibiterias, nem cartazes, nem programação visual, nem exposição decente, nem artistas de peso, nem divulgação de mídia, enfim, sem nenhuma estrutura, é uma piada de MUITO mal gosto! Não teve nada de convenção, apenas um encontro de amigos que curtem quadrinhos. HOTEL: Tudo ok, porém, se combinou que haveria “alimentação completa garantida”, ou seja, café da manhã/almoço/jantar. Uma vez que o hotel só oferece café da manhã, a alimentação acabou ficando por minha conta. Eu e Fernando Damasio tivemos que procurar um lugar mais em conta pra nos alimentar.
CONDUÇÃO: Não tinha condução do hotel para o evento e vice versa. A minha sorte e do Fernando Damasio (desenhista de Rip Regan, Powerman, do Excelsior Webcomics) foi o Professor Athos, um dos palestrantes, garantir o táxi de ida. Na volta, eu e Damasio dividíamos a corrida do evento ao hotel. O Leonardo sequer apareceu no hotel, só ficando no evento, muitas vezes sem nenhuma ocupação.
ALIMENTAÇÃO DURANTE O EVENTO: também não teve. O que aconteceu foi uma “manobra” do curador, Leonardo Albuquerque, para recebermos um cachê como “voluntários”, ao invés de “palestrantes”. Algo inconveniente e vexatório. No dia posterior, nem mesmo os voluntários estavam recebendo.
VERNISSAGE: No dia da abertura da exposição, para minha surpresa, não tinha NENHUM banner ou indicação do evento de Quadrinhos dentro ou fora do Fórum Social-Mundial, nada! Descobri por acaso que a parte de Quadrinhos ficava no piso superior e lá tinha apenas duas mesas com duas placas de madeira com artes afixadas de Luca Risi e do grupo de quadrinhistas Quadrante Sul. Uma outra placa, pintada com uma mulher de perfil e com o nome “Brasil Sul ComicCon”, estava a frente. Na parte de artes visuais, no piso inferior, a vernissage acontecia, ao mesmo tempo que se acabava de montar a exposição; algo impensável.
DIVULGAÇÃO: Só houve divulgação na semana do evento, coisa que deveria acontecer no mínimo com um mês de antecedência. Também os modelos que iriam vestidos de personagens de quadrinhos, distribuindo flyers, não foram contratados.
PALESTRAS: Uma verdadeira bagunça. Um exemplo foi que, na hora da palestra do Professor Athos, outro grupo de pessoas usaria o espaço. Resultado: quando o professor já tinha começado, teve que interromper sua palestra e esperar. Um verdadeiro desrespeito. Eu estava comprometido com duas palestras mas, na programação interna, constava meu nome em outras, sem nem eu ter sido consultado. Não havia público, uma vez que não houve divulgação interna ou nada que indicasse que estava acontecendo uma palestra ali. Apenas amigos que se encontraram pra bater papo sobre HQ. Só cumpri com as duas que havia combinado. Espero ser pago, como combinado.
LANÇAMENTOS: Na minha palestra, haveria lançamento do meu livro “Super-Brazucas - o universo dos super-heróis brasileiros” e da revista indie “Excelsior Quadrinhos”. Bom, antes mesmo do evento, o Leonardo me falou que a Prefeitura não iria comprar exemplares do livro para venda, como havia combinado antes. E somente durante o evento, ele me falou que a Prefeitura não iria fazer a impressão da revista, como combinado antes. Enfim, minha ida a Porto Alegre só valeu por ter conhecido o Professor Athos, a Cris Peter, Fernando Damasio, Darlei Nunez e o pessoal do Quadrante Sul. De resto, foi um fiasco! Sorte tiveram Mike Deodato, Emir Ribeiro e Watson Portela que foram convidados e não entraram nesta furada, já que viram que não valeria a pena...”

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O Tinta Nankin não condena nem absolve ninguém envolvido nesse acontecimento, mas segundo os depoimentos dos artistas envolvidos, amadorismo e descaso por parte da organização marcaram negativamente a cena da HQB gaúcha. O Tinta Nankin se solidariza com os artistas e espera que tudo se resolva o mais rapidamente possível. E democraticamente abre espaço para as explicações da organização do evento.

23.3.13

Entrevista: LANCELOTT



Apresente-se aos leitores dizendo seu nome, idade, onde nasceu e onde mora atualmente. 
Bem, sou Lancelott,  nascido Bartolomeu Martins. Sou “filho sol do equador”, piauiense de Parnaíba.

Como todo fã de HQs, você também começou a ler quadrinhos na infância?
Sim. Chego a dizer que foi minha escola. Nos quadrinhos aprendi a sonhar, imaginar, enfim a exercitar a mente criativa e não fui desvirtuado como se aplicaria à teoria de Whertam. Conheci Alex Raymond, Bob Kane, Lee Falk e me encantei com a arte sequencial. “Batimão” e “Rubinho” foi como ouvi antes de ler Batman e Robin, por uma senhora que as lia para mim e meu irmão.

Quais títulos te marcaram nessa época?
Flash Gordon, Jim das Selvas, Mandrake, Fantasma, Tarzan e Batman.

Os quadrinhos eram acessíveis onde você morava?
Não. Na verdade morávamos em uma área ribeirinha afastada da cidade, mas uma senhora de meia idade, Dona Luiza, comprava estas revistas, levava de presente e as lia à noite (lembro com saudade...).

Acervo pessoal e fonte de pesquisa de Lancelott.
Além de um ótimo desenhista você também escreve roteiros?
Desenhar era coisa de pequeno. No colégio já fazia as “capas de provas” de final de ano com imagens de Tarzan, Fantasma, Batman e cobrava dos colegas (hehehe!!!). Escrever foi uma decorrência de ler muito Machado de Assis e outros autores. Com o tempo passei a trabalhar para uma biblioteca e fazia resenhas de livros e ganhei o gosto para “inventar” histórias e sim, respondendo, escrevo.

Já teve trabalhos publicados em revistas no Brasil ou fora dele?
Não. Sempre desenhei mas nunca participei de qualquer publicação de grande circulação. Nos tempos de universidade fazia muitas ilustrações para livros de poesias, cartazes e publicações locais, quadrinhos institucionais, coisas assim... Enviei alguns trabalhos para a Editora D-Arte, do Rodolfo Zalla, mas não agradei. Também, não tinha técnica nenhuma, sempre fui autodidata.

E os fanzines, também atuou nesse meio?
Ah, os fanzines! Este foi o meu meio de expressar minha paixão por quadrinhos na década de 80. Mas fazer fanzines naquela época era mais paixão mesmo do que pensar em retorno financeiro, isso não existia! Tinha o QUERELA, onde publicávamos vários personagens, dentre eles EXU e SETE ESTRELAS. A publicação era mais voltada para a cultura regional, lendas e crenças. Esse fanzine, se me lembro bem, acho que ultrapassou umas 36 edições. Pena que eram de pouca tiragem e distribuídos de graça ou trocados por papel “chamex”... O zine era feito “cladestinamente” numa gráfica em que eu trabalhava (eheheh!!!), duplicado no “stencil”, coisa artesanal mesmo - papel, cola, tesoura e grampeadores. Lembro que na época cheguei a trocar zines com Joacy Jamys*, do Maranhão, mas ele se mandou cedo pro outro lado...

Vi no teu blog termos como “Orun”, “Aye” e menções a Maçonaria. Além do mais, teu personagem, Exú, é baseado no candomblé. Você é um cara espiritualizado, segue alguma doutrina ou religião? E como isso influi nas suas HQs?
Na verdade uma das minhas formações superior é Teologia (tinha um lance de querer ser frade, mas usar “saia” não bateu legal, ahahah!!). O Candomblé é uma vertente espiritual que muito me seduz e EXÚ nasceu dessa interação. Vi o tratamento do ser espiritual de EXÚ muito satanizado na cultura de um modo geral, advindo, claro, da nossa colonização cristã e resolvi resgatar sua verdadeira origem, na africana ancestralidade, dos Orixás como seres de uma crença de fé dos homens pretos... 

Aproveitando a deixa, conta pra gente sobre esse teu personagem, Exú.
Muito do quadrinho publicado no mundo inteiro sempre fez abordagens a deuses brancos e loiros e resolvi resgatar um preto para contrapor o peso da balança, por que não (hahaha!!!)? Um Orixá! Claro, não foi muito bem recebido, mesmo no zine... mesmo assim, desenhei muitas historias onde o principal eram suas andanças pelo muito dos seres físicos. Neste contexto, fazia sempre uma alusão a todo o Panteão Afro. Uma pena que eram de pouca tiragem e não me restou sequer uma edição impressa pois tive que fazer concursos, trabalhar e deixei de fazer quadrinhos marginais.

Já o Sete Estrelas tem uma verve mais nordestina, com origens no sertão.
Cordel... Aquela coisa da mítica do caboclo acreditar no fantástico, onde sua visão é mais onírica, mais colorida, mas distorcida do real convencional, mais simples e mais particular... SETE ESTRELAS foi nascido desta senda. O personagem aparecia no zine em contos ilustrados sempre envolto com o fantástico: almas, bois-da-cara-preta, cabeças de cúias, estrelas e diabos..




Agora, na minha opinião, o seu personagem mais interessante é o Catalogador. Quem é ele e como surgiu?
O CATALOGADOR? Parece até egocentrismo não é? O personagem foi uma decorrência de minha atividade de “catalogar” personagens brasileiros. A idéia com o Catalogador era possibilitar encontros com outros heróis brazucas de universos independentes diferentes sem muita explicação e/ou explicar origens, enfim, estas coisas. O personagem é aberto a todos os autores para o utilizarem em suas criações. Seria uma entidade supra temporal, cósmica (cacete... hahaha!!) que teria esse fim. O personagem surgiu no Facebook, como forma icônica mesmo, e depois de muitos pitacos dos amigos Lorde Lobo, Ataíde Braz e por fim quando o Sergio Oliveira do zine Fábrica de Monstros publicou uma HQ dele, oficiou a sua aparição, vamos dizer, física.

E quem (ou o que) são os Bengalas Boys?
Os Bengalas Boys (hahahahah!!!)?! São os Bengalas Boys! Cara, foi uma brincadeira no Facebook quando resolvi provocar a velha guarda: Tony Fernandes, Ataíde Braz, Wilde Portella, Fernando Ikoma, Alvarez, A. Moreira, Moacir Torres, Décio Ramirez, Minighthi (nunca sei escrever o nome do MINI), Airton Marcelino, Seabra, Jodil, Jolba e muitos outros. Então criei um avatar com as características de cada um. Enfim, era uma alusão a velhos autores de quadrinhos, desenhistas e fãs... OS BENGALAS BOYS! Eram homens de um mundo onde a fantasia era criada pelo simples toque da mente. As criações fantásticas de suas mentes povoaram um mundo de impossíveis possibilidades, os quadrinhos! Agora eles estão no Universo dos Quadrinhos, uma dimensão onde criadores e criaturas se tocam, mas com um detalhe: eles não sabem quem são! O ápice deste encontro deu-se no Velho Oeste (hahahahaha!!!!). Escrevi um roteiro, o Airton Marcelino desenhou e foi publicado virtualmente pelo FARRAZINE. O nome veio de uma banda do Tony Fernandes, quando ele fumava e bebia (hahaha!!!). Ah, tem também a ver com a meia-idade do grupo.


E como começou esse trabalho hercúleo de catalogar todos os personagens nacionais no blog HQ Quadrinhos?
Bem, depois do final dos anos 80 fui trabalhar e me afastei dos quadrinhos e com minha aposentadoria, 30 anos depois, voltei para minha paixão e a rabiscar, mas sem clima para sequenciar, fazendo somente pin-ups para o meu blog, HQ Quadrinhos. Comecei a pesquisar sobre quadrinho brazuca e nada ou pouca informação encontrava na web, então resolvi fazer resenhas mnemônicas sobre personagens e publicar para registro e como tributo aos autores. Fiz um Catálogo de Heróis Brasileiros sem qualquer intenção acadêmica, registrando personagens de todo canto do Brasil, mesmo os chamados “marginais”, sem grande divulgação, mas que representam a vontade do quadrinista de materializar sua criação, quer seja em zines, web-zines, fanpages, etc., se configurando um grande Universo Independente, com incomensurável potencialidade se bem gerido. Este livro virtual, hoje, tem pra mais de 2.000 downloads!

Saberia dizer quantos já foram catalogados até a publicação dessa entrevista?
Não sei ao certo... Tenho aqui uma infinidades de informações preciosas que vão desde 1907, como o Dr. Alpha, um astronauta brasileiro que fazia viagens interplanetárias e tinha um traje de sustentação vital (publicado no Tico-Tico), até os dias atuais... Talvez umas 600 pastas de arquivos. Na verdade acho que estou precisando de mais tempo (hahahahh!!)... Tenho que rastrear publicações antigas e acessar, por exemplo, bibliotecas de jornais, etc...


Dentre tantos personagens, apenas uma pequena parcela conseguiu ser publicada oficialmente e reconhecida pelos leitores. Isso tem a ver com a qualidade do material, publicidade, empatia ou o que?
É verdade... Mas isso tem a ver com a realidade e a fantasia. Muita coisa que temos no “Universo Independente” é um sonho. Poucos desses sonhos tornam-se realidade com o esforço hercúleo de produzir um quadrinho físico com todos os seus custos e ônus e ainda bancar a distribuição. Muito difícil... Temos bons roteiristas e bons desenhistas. Temos um dos maiores mercado do mundo para esta mídia impressa mas não temos organização e/ou oportunização a estes prováveis valores... A exemplo, muitos estão no mercado americano.


Você também cataloga personagens gringos da Era de Ouro no blog Golden Age. Porque?
Os comics foram meu berço, creio, como a maioria dos brasileiros. E esta paixão pelo quadrinho de um modo geral, extrapola! Comecei o blog com estes personagens gringos até para “chamar” a atenção dos web-leitores e depois criei um blog específico para os quadrinhos da Golden Age americana.

Você disponibilizou para download gratuito em teu blog uma coletânea com centenas de HQs do saudoso mestre Flávio Colin. Com certeza um dos trabalhos mais importantes em prol do resgate da HQ nacional.
Falta no Brasil um resgate à memória destes artistas que, podemos dizer, foram os desbravadores de nossa assinatura nos quadrinhos. Abrimos a série com Flávio Colin que é emblemático, cheio de brasilidade, inclusive no traço a lá “entalhe de cordel”, algo sui generis... É uma série free para mais de 5 volumes sobre ele. Tenho pra mais de 600 páginas pesquisadas/trabalhadas.  É mais um resgate e tributo a este autor maravilhoso que partilho sem nenhum custo aos amigos. Espero que um dia alguma editora e/ou editor possa nos possibilitar algo impresso, pois este meu trabalho é apenas de divulgação, sem qualquer outro compromisso que não seja a memória do artista.

Página de Julio Shimamoto.
Seria legal termos mais trabalhos assim com outros grandes nomes da HQB como Rodval Matias, Watson Portela, Edmundo Rodrigues...
Até penso em fazer e já tenho alguns arquivos separados do Júlio Shimamoto e conto com a ajuda do Alan Bispo e do Paulo Castilho, dois grandes amigos e possuidores de grandes acervos digitais. Aguardem!

De uns tempos pra cá os artistas da HQB começaram a desenhar cada vez mais para o mercado exterior, aprendendo novas técnicas e estilos. Na sua opinião, isso é bom para os quadrinhos nacionais?
Bom, muito bom! Temos valores pra exportar, o que nos credencia e nos possibilitaria, se bem gerido nosso mercado, mão-de-obra qualificada.

No teu Facebook você postou xilogravuras usadas na literatura de cordel. Já escreveu algum?
Especificamente cordel, não. As xilogravuras, bem antes, no tempo dos fanzines, eram fontes de inspiração para os contos e artes do vaqueiro semi-morto Sete Estrelas.

Desenhista, roteirista, catalogador e ARQUEIRO nas horas vagas! Conta pra gente como surgiu esse amor pelo arco e flecha.
Hahahaha!!! Saca o lance dos Poetas Mortos?! Pois é, erámos apenas três arqueiros em nossa cidade e nos auto-denominamos Sociedade dos Arqueiros Mortos. Éramos vidrados no Arqueiro Verde, e ainda hoje, quando nos encontramos, nos chamamos mutuamente de Oliver (ahahah!!!!). Infelizmente, um dos membros da Sociedade já foi para os campos verdejantes de caça...

Lancelott, fique a vontade para mandar um recado aos seus colaboradores e aos leitores do blog.
Bem, eu tenho uma grande dificuldade em conseguir informações, mesmo dos autores mais novos e vivos sobre personagens publicados (em qualquer mídia), e aproveito a deixa do TINTA NANQUIM para deixar meu e-mail, scanscomics@gmail.com, para os colegas me enviarem imagens, textos, releases e também contribuições sobre personagens antigos e obscuros de nosso quadrinho, que não são conhecidos do grande público.

Lancelott e a "prata da casa".
Ciente da importância do seu trabalho para o resgate e disseminação dos grandes nomes que fizeram e fazem a HQB, o Tinta Nankin agradece a paciência e dedicação com que você nos cedeu essa entrevista.
Na verdade, quem agradece sou eu. Sou apenas um aficcionado pela Arte Sequencial Brasileira, mesmo as denominadas marginais (publicadas nos fanzines, zines, web-zines, independentes e autorais) e as oficiais, publicadas em mídias de grande circulação. Acho pertinente este trabalho do TINTA NAQUIM pelo amigo Rom Freire, que também mostra a cara do Brasil e tributa neste formato um grande preito de gratidão aos autores, desenhistas, escritores, roteiristas, pesquisadores e fãs. Obrigado pela oportunidade!

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* Joacy Jamys foi um quadrinhista, cartunista e fanzineiro de grande projeção no Brasil e no mundo. Morreu em 2006, vítima de um AVC. Mais detalhes sobre ele aqui.

E-mail de contato: scanscomics@gmail.com.


18.3.13

Entrevista: RAFAEL TAVARES



Pra começar diga seu nome, idade, onde nasceu e onde mora atualmente.
Rafael Tavares, 31 anos, nascido em Fortaleza no Ceará, onde permaneço vivendo!!

Primeira capa d´Os Invictos, no traço
do próprio Rafael Tavares (anos 90).
Como e quando surgiu esse amor pelas HQs?
A origem de tudo foi decorrência do meu fascínio pelos personagens fictícios que conheci através dos desenhos animados!! Uma vez cativado pelos personagens foi uma alegria saber que eles também estavam em histórias em quadrinhos, na verdade, na maioria dos casos, eles se originaram ali!! Isso tudo foi durante a infância!!

Tem mais alguém na família que curte quadrinhos?
Boa pergunta!! No meu núcleo familiar não!! Na verdade nunca fui considerado muito normal na casa dos meus pais por causa do meu amor e dedicação aos quadrinhos!! Meus pais sempre me amaram, mas nutriam a ideia que a maioria compartilha de que quadrinhos é um passatempo e nada mais!! Felizmente minha esposa me compreende e me ama do jeito que eu sou!! Sei que tenho alguns primos que curtem um pouco de quadrinhos, mas nunca se arriscaram a produzir algo como eu faço!!

Você também desenha ou apenas escreve roteiros?
Desenhava muito pouco e hoje faz tempo que não pego em um lápis para esse fim!! Procuro me especializar nos roteiros e quero ficar bom nisso!! Também sou editor das revistas que lanço!!

Aqui no Brasil, quais são suas principais influências?
Além dos mestres do passado que deixaram o seu legado para nós, admiro todos aqueles que vêm conseguindo dar continuidade com seus projetos de quadrinhos!! Muita gente boa está tentando e conseguindo lançar materiais de qualidade, e as pessoas precisam se dar conta disso!! Todos servem de exemplo para me inspirar em dar minha contribuição com minhas histórias!!

Qual o primeiro personagem que você criou?
Foi o Pétreo, o Indestrutível!! Tinha 13 anos de idade na época e ele era um pouco diferente de como é hoje, mas não tão diferente assim!! Até hoje ele continua sendo de extrema importância para o Universo ficcional que desenvolvi!!

Como é a cena quadrinhística independente aí em Fortaleza?
Poderia estar melhor em termos de quantidade de títulos lançados, mas estamos tendo ganhos muito positivos de outras ordens!! Os artistas vêm se mostrando mais empenhados em trocar ideias e compartilhar experiências e conhecimentos!! O surgimento da Gibiteca Municipal de Fortaleza há quatro anos foi um importante elemento para esse entrosamento maior, que antes não era tão eficiente como se revela hoje!! O interesse por eventos para as histórias em quadrinhos está se consolidando cada vez mais e acredito que dentro desse novo cenário que está se desenhando em um futuro próximo teremos um aumento na produção de títulos para todos os gostos!!



Adriano Sapão e seu presente
de aniversário.
Quais seus principais colaboradores?
Considero qualquer um que fizer uma arte relacionada ao Universo Invictos um colaborador, pois despertar o interesse de alguém para uma produção nacional do gênero de super-heróis é algo muito positivo!! Temos muitos e incríveis talentos no nosso país, alguns com grande potencial, requerendo apenas mais tempo para atingirem seu ápice!! Tive a alegria de contar com grandes talentos em projetos meus!! Considero todos relevantes!! Agora alguns artistas atuaram mais frequentemente, como o caso do meu amigo Adriano Sapão que conheço desde 1998!! Daniel Siqueira é outro que conheço há bastante tempo, e sua colaboração sempre foi mais de apontar observações e sugestões pertinentes a certos conceitos e construções que eu criava!! Outro importante colaborador que posso mencionar é o talentosíssimo José Luís, um artista internacional que tem muito apreço pelo surgimento de um mercado de quadrinhos mais próspero no Brasil, e além de ser um amigo que prezo bastante, ele ainda guarda um grande carinho pelos Invictos!! Alzir Alves, diretor do Rascunho Studios, também é um indivíduo de crucial importância para os meus projetos mais relevantes, afinal foi através dele que conheci o fantástico Renato Rei que vem marcando presença em produções minhas de caráter mais especial!!

Arte: Ediano SIlva. Cores: Alzir Alves.
Dos novos talentos que você conhece e apoia, quais você destacaria?
Posso mencionar o próprio Renato Rei, um artista jovem, mas com um trabalho riquíssimo e que vem conquistando o espaço e atenção que merece!! Netho Diaz é outro jovem talento que torço bastante para encontrar seu lugar dentre as grandes editoras!! Ediano Silva é um que não poderia deixar de mencionar, pois tenho grande simpatia por seu trabalho que é de encher os olhos!! Leonardo Rocha é um artista que acompanho sua evolução artística há bastante tempo e sempre tive certeza de seu potencial que hoje está sendo moldado com muito treino e aprendizado de qualidade garantindo um aperfeiçoamento invejável!!

Olhei no seu perfil uma foto que fazia referência a uma certa HQ-Force. Seria um grupo de quadrinhistas da sua cidade?
Muito observador e a pergunta faz todo sentido, mas o HQ-Force na verdade é um grupo de amigos colecionadores de revistas em quadrinhos que anualmente se reúne para um tradicional amigo secreto com trocas de HQs!! É sempre um momento muito divertido e que já ocorre há aproximadamente dez anos!! Apesar de não nos encontrarmos mais vezes ao ano, todos fazem questão de marcar presença no evento!!

HQ-Force 2012.

Explica pra gente o que é exatamente o Projeto Continuun.
Projeto Continuum é uma publicação que acabou virando um selo de quadrinhos independentes!! O projeto surgiu das vontades de Daniel Siqueira, Adriano Sapão e eu de termos um espaço para contarmos as nossas histórias e apresentarmos nossos personagens!! Claro, desde o início intencionávamos abrir espaço para que outros artistas também pudessem mostrar seus materiais!! A primeira edição da Projeto Continuum foi lançada em setembro de 2004 e contou com nove edições lançadas até o momento, uma edição especial e três edições com o subtítulo Extra!!  Foi evidentemente um processo de aprendizado importante e uma experiência valiosa que nos conectou com diversos artistas de todo o país, uma vez que contamos com vários colaboradores ao longo dessas edições!!


Seus personagens mais famosos são Os Invictos. Conta um pouco sobre eles.
Os Invictos pertencem a um futuro onde o Brasil é a maior potência mundial, portanto, o contexto do grupo procura despertar um olhar diferenciado para as possibilidades do nosso país!! Claro que os elementos característicos que definem o gênero de super-heróis estão presentes em sua história e origem, mas existe a possibilidade de se ir um pouco além!! A equipe é composta por amigos que funcionam meio como uma família em função da ligação que possuem desde o passado, quando o nosso planeta foi dominado por um império alienígena!! A sombra desse passado terrível ainda paira sobre a humanidade e a ameaça do retorno dos invasores mantém os Invictos sempre em alerta!!

E você tem intenção de vender os Invictos pra alguma editora nos EUA ou outro país?
No momento isso não me ocorre, até porque a contexto dos Invictos, se passando em uma realidade futura do Brasil, não deve interessar em um primeiro momento a editoras estrangeiras!! Estou interessado em ver os personagens sendo aceitos e conquistando o seu espaço por aqui mesmo!!

Nove entre dez artistas possuem um grupo de super-heróis. Você não acha que a fórmula está gasta, saturada?
Acho que a proporção não seria bem essa, pelo menos se tomarmos como referencial a quantidade de super-heróis criados no Brasil!! A grande maioria constitui-se de heróis solo e não de super-grupos!! Considero até que existem poucos super-grupos brasileiros!! Mas não acho que a fórmula esteja saturada de modo algum!! Na condição de humanos vivemos em sociedade, ou seja, é crucial a convivência e interação com demais indivíduos e isso naturalmente se reflete na ficção!! Super-grupos mostram um pouco disso, dos conflitos e vantagens da vida em conjunto!! E podemos notar facilmente que super-grupos surgidos há muitas décadas continuam fazendo muito sucesso com vendas de revistas e atingindo recordes de bilheteria nos cinemas!!

Quantas revistas você já publicou e quais seus personagens?
O número está por volta de vinte publicações independentes que atuei como editor e produtor!! E a maioria dessas publicações contou com a presença de personagens criados por mim, como Os Invictos, Pétreo, o indestrutível, Soturno e Aborígene!! Ainda conto com outras criações que estão prestes a aparecer em novas publicações!!

E a aceitação dessas revistas por parte dos leitores, é boa?
Todas essas publicações foram produções independentes, logo a aceitação do leitor é um processo gradual!! À medida que vamos tornando os personagens mais conhecidos, possibilitando a maior presença de títulos, oferecendo um material impresso mais apresentável, o leitor vai se sentindo mais atraído e vai se despindo dos preconceitos que nem sabe bem por que nutre a respeito dos quadrinhos nacionais!! Esse processo também nos permite amadurecer como editor, contador de histórias, e os leitores se beneficiam com isso naturalmente!! Recentemente promovi o lançamento da primeira edição de uma minissérie d’Os Invictos, uma publicação com acabamento de primeira, com artistas profissionais cuidando da arte, um trabalho gráfico profissional, e tudo isso vem repercutindo em uma ótima aceitação por parte dos leitores!! Aqueles que conheceram meu trabalho em fanzines e prozines agora estão tendo uma nova experiência, e isso vem atraindo ainda mais olhares além dos de costume!! Um material mais profissional desperta maior interesse do seu público alvo!!

Como todo artista nacional com certeza você já se deparou com pessoas que adoram falar mal do quadrinho nacional. Você acha que todas essas críticas procedem?
Sou da crença que apenas falar mal ou criticar negativamente não leva a nada, não muda nada!! É notório que os quadrinhos nacionais encontram e possuem desvantagens históricas e culturais, mas procuro ver além dos problemas, até porque o cenário não é mais o mesmo de antes e coisas boas estão acontecendo!! Infelizmente algumas pessoas não se interessam ou tem receio de enxergar além daquilo que se sentem confortáveis enxergando e acabam por perder e deixar de contribuir com as mudanças que já se percebem!!

Rafael Tavares, José Luis e o original da capa dos Invictos.
Raramente se vê críticas construtivas sobre os desenhos nas redes sociais. Geralmente lê-se apenas “parabéns”, “ótimo trabalho”, etc. Isso ajuda ou atrapalha na formação de novos artistas?
O artista possui a necessidade natural de mostrar aquilo que produz com o intuito de provocar uma reação em quem vê o seu trabalho, por essa razão o espaço possibilitado pelas redes sociais para isso é muito válido!! Agora o artista precisa ter o discernimento e auto avaliar seu trabalho de acordo com seus objetivos para trilhar o melhor caminho para atingi-los!! O artista que possui essa maturidade de pensamento irá se beneficiar dos comentários diretos e elogiosos de suas postagens nas redes sociais, mas saberá também que precisa encontrar um meio de superar suas deficiências artísticas!! Alguns optam por conta própria exercitar sua percepção mediante observação e estudos, outros preferem entrar em contato com artistas mais experientes que estejam dispostos e com tempo para compartilhar um pouco de sua experiência adquirida!! Isso vai muito de cada um, mas aquilo que é indispensável a todos é a dedicação à prática, é preciso se praticar muito!!

Arte: Óqui  -  Cores: Alzir Alves.
Alguns artistas nacionais tem fama de não aceitarem críticas. O que você acha disso?
As críticas propriamente ditas, ou seja, aquelas com fundamento, não devem ser ignoradas!! Podem não ser fáceis de serem recebidas em muitos casos, mas se tiver valor diante da possibilidade de melhoramento de algum aspecto do trabalho deve sim ser refletida por parte do artista!! O artista precisa sempre estar se questionando sobre o seu trabalho,  sem permitir é claro que esses questionamentos o impeçam de seguir produzindo, e as críticas de valor podem muito bem apontar boas soluções!! O artista que não se permite tais reflexões, avaliando se aquilo que foi dito pode ou não beneficiar o seu trabalho, está na verdade desmerecendo o seu próprio trabalho!!

Na sua opinião, o que pode ser feito para a profissionalização do artista e do mercado nacional de HQs?
Aquilo que norteia qualquer aspecto do conceito de profissional, seriedade e respeito!! O artista precisa se levar a sério ao ponto de se direcionar para cumprir o que for necessário para atingir os seus objetivos, ou seja, praticar muito e melhorar sempre mais!! Por outro lado essa seriedade não pode provocar deslumbramentos no próprio artista, afetando a sua percepção referente ao seu trabalho e sua importância, e comprometendo as relações com os demais inviabilizando oportunidades de trabalho, o que nos leva a uma das manifestações da presença necessária do respeito!! Os mesmos parâmetros servem para o mercado, só que sua natureza é distinta, tudo se configura com uma amplitude muito maior, e algumas vezes as relações de trabalho podem se configurar de forma desleal, mas ainda assim seriedade e respeito devem ser sempre considerados!! Somando isso com trabalhos cada vez melhores, artistas preparados e profissionais e a aceitação e boa utilização das novas mídias que surgem, creio que os empecilhos serão devidamente superados!!

Sandro Marcelo apreciando seu exemplar de Os Invictos.
Com quais artistas de outros estados, que também publicam de forma independente, você tem contato/amizade? E o que eles acham do seu trabalho?
Felizmente muitos, embora por questão de tempo não seja possível me comunicar com maior frequência com a maioria deles!! Mas posso citar Mario Cesar Silva de São Paulo, importante colaborador do Projeto Continuum e editor de algumas publicações dentre elas o zine Insistência, Samuel Bono, outro importante amigo de São Paulo que colaborou com o Projeto Continuum e Os Invictos, Angelo Ron que vive em Belo Horizonte e já colaborou com diversas publicações e sempre foi muito importante para Os Invictos, LordeLobo do Rio Grande do Sul responsável pelo personagem Penitente que possui uma ótima publicação, Alan Yango do Pará e criador e responsável pela revista do Maximus, Sandro Marcelo de Pernambuco e editor da revista Campana, MarcosFranco criador da personagem Penitência!! A lista para minha alegria não para por aí, com Jackson Gebien, Will, Eloyr Pacheco, Lancelott, Lucas Ed, MarcosGratão, Lucasi, dentre outros!! E acredito que todos tem apreço pelos meus projetos e personagens, uma vez que sempre me apoiaram e contribuíram de alguma forma comigo!!

Arte: Renato Rei  -  Cores: Alzir Alves.
Agora a pergunta que não quer calar: dá pra ganhar grana publicando trabalhos próprios aqui no Brasil?
Bem, esse ainda não é o meu caso!! Em se falando de artistas profissionais que já fizeram o seu espaço e nome é pouco provável que não venham obter prestígio, inclusive financeiro, com a publicação de trabalhos mais autorais!! Histórias em quadrinhos são um produto alvo de comercialização com o intuito de auferir grana, e isso não seria diferente aqui no Brasil!! Uma publicação dotada de apelo para determinado público e encontrando os meios de chegar até este público pode se reverter em um grande negócio como outro qualquer!! Mas aqui no Brasil existem muitas lacunas que precisam ser preenxidas para uma publicação se tornar algo rentável, e nem todos dispõem dos meios para lograr êxito!! Essas lacunas são as mais diversas e algumas delas envolvem a falta de capital para investir e distribuição!! Para muitos quadrinistas independentes já seria uma vitória a conquista do financiamento de seus projetos com o dinheiro das vendas, mas na maioria dos casos nem isso é possível!! A realidade está mudando, mas ainda irá demorar para atingirmos o objetivo ideal que é lucrar com nossos quadrinhos, e aqui estou me referindo a grande maioria dos artistas independentes!! Nada é impossível, mas os quadrinhos nacionais ainda estão em um estágio que precisam conquistar a confiança, admiração e interesse do leitor de um modo geral!! Esses passos estão cada vez mais sendo concretizados e precisam ter continuidade, apesar das muitas dificuldades que ainda existem de se oferecer um material de qualidade e com certa periodicidade!! O importante é não desistir e procurar sempre oferecer um trabalho melhor que o anterior em virtude da experiência adquirida!! O artista pode e deve procurar parcerias e editoras quando achar que seu material já possui as qualificações de um produto comerciável, pois quadrinhos foram feitos para serem vendidos e apreciados pelos seus leitores!! No momento estou criando os meios para consolidar esse objetivo, mas, enquanto isso, voltei recentemente a ter um segundo emprego para melhor honrar os compromissos da casa e custear os meus projetos de quadrinhos, claro que isso reduz ainda mais meu tempo para a produção, mas não me impede de seguir em frente!!

Renato Rei satisfeito com seu trabalho em Os Invictos.
Como todo mundo que trabalha no mercado de quadrinhos nacional sabe, fazer HQ independente no Brasil é matar um leão por dia, certo?
Acho que ainda é a realidade de sempre de certa forma e de qualquer lugar do país, embora os computadores e a internet facilitaram em muitos aspectos e permitiram que um maior número de artistas e autores pudessem conferir um caráter mais profissional para suas obras!! Alguns problemas persistem, como a dificuldade da distribuição, captação de recursos, propaganda em larga escala e outras coisas mais!! O cenário dos quadrinhos no Ceará como comentei acima segue com boas e necessárias mudanças que já podem ser notadas e sentidas com otimismo por parte de todos!! Muito ainda precisa ser feito, e existe interesse e planejamento para a continuidade dessas mudanças!! Artistas estão se organizando e efetivamente realizando ações visando novos espaços e conquistas!! O Fórum de Quadrinhos do Ceará é fundamental para isso, bem como a manutenção da Gibiteca Municipal de Fortaleza, local que já mostrou o seu valor para o novo cenário que está sendo desenhado no Estado!!

Muitos artistas Brasil afora, além de produzir HQs, também ensinam a nona arte em escolas e cursos ou usam os quadrinhos como material didático. Você já teve essa experiência?
Ainda não tive experiência como professor, embora simpatize com a ideia de um dia ensinar sobre roteiros!! Mas uma vez fui convidado pela minha namorada, hoje minha esposa, para fazer uma palestra sobre fanzines e quadrinhos quando ela cursava faculdade de História!! Foi algo bem positivo, com interesse e participação dos presentes, e foi justamente discutida a importância dos quadrinhos na educação, coisa que considero realmente positiva e que pode ter um excelente aproveitamento!!

Você acha que os quadrinhos podem ajudar os alunos a assimilarem mais facilmente o conteúdo didático?
Os quadrinhos possuem muitos atrativos, e não apenas para os mais jovens!! Alunos de todas as idades podem se envolver com a leitura de uma HQ e extrair importantes conhecimentos, ensinamentos ou mensagens contidos nela, ali inseridos para um ganho educacional do aluno!!

Invicta no traço de Célio Cardoso.
O mercado norteamericano de comics hoje está aberto para desenhistas do mundo todo. Você acha que os roteiristas também podem chegar lá?
Hoje me concentro nas funções de editor e roteirista, por isso nunca me arrisquei profissionalmente como desenhista ou arte-finalista!! Os comics norte americanos tem por tradição não se interessar por roteiristas de língua não inglesa, por isso a acesso de um roteirista no mercado norte americano é bem difícil!! A falta de tempo é outro fator que impede a dedicação total a produção de histórias, mas o mercado nacional ainda se configura como a melhor opção para o profissional de quadrinhos na função de roteirista!!

E os novos projetos?
Minha meta é dar continuidade e honrar os projetos que já iniciei e anunciei, especialmente a minissérie Os Invictos GÊNESE e a HQ dos Invictos que irá reunir dezenas de super-heróis nacionais, bem como outro projeto importante também reunindo alguns personagens nacionais e que terá como destaque o personagem Catalogador de Universos!! Outras HQs também serão lançadas como um arco de histórias dos Jovens Heróis que está sendo desenhada pelo Adriano Sapão e colorida por Marcos Gratão, um arco dos Invictos na revista Campana de Sandro Marcelo, sendo desenhada por Adriano Sapão e Angelo Ron, uma HQ da Invicta que está sendo desenhada e colorida por Célio Cardoso, e espero que isso seja só o começo de muitas outras aventuras!!

Rafael, foi um prazer recebê-lo no Tinta Nankin. Muito sucesso e que os Invictos e todos os seus personagens continuem honrando a HQ nacional.

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Site d´Os Invictos.
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