O principal objetivo desse blog sempre foi ajudar a HQB que, como todos sabem, raramente recebe patrocínio, sobrevivendo apenas do esforço, dedicação e, muitas vezes, investimento financeiro dos próprios artistas. De uns tempos pra cá, eventos de quadrinhos se tornaram comuns Brasil afora, abrindo as portas de editoras do Brasil e de outros países para os artistas que se destacam no mercado. Mas se para alguns profissionais os eventos de HQ se tornaram motivo de estímulo e alegria, para outros causaram apenas constrangimento e frustração ao se depararem com falta de organização, descaso e amadorismo por parte dos organizadores. Abaixo, vocês lerão um texto elaborado pelo quadrinhista e editor Carlos Henry e depoimentos de artistas convidados a participar do malfadado evento denominado 2º BRASIL SUL COMIC CON, realizado em janeiro de 2013 em Porto Alegre-RS.
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"Caros Amigos.
Sou quadrinhista, autor do Lobo-Guará, editor do selo Excelsior Webcomics e junto com os também quadrinhistas Denílson Reis (grupo Quadrante do Sul) e Fernando Damasio, fomos convidados para participar em janeiro de 2013 da “2ª BRASIL SUL COMIC CON”, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Fomos convidados pelo curador Leonardo Albuquerque.
Este “evento”, de tão precário, é uma vergonha e nem pode ser considerado no meio de outros das HQs. Nós três (Denílson, Fernando e eu) "comemos o pão que o Diabo amassou”, de tanto descaso, tanto para conosco, quanto para o público. Tudo está relatado aqui.
Em resumo: muito descaso, desde alimentação e condução ao evento, falta de comunicação do curador no Hotel com os convidados palestrantes. Prometeu-se que o pagamento das palestras de cada autor seria efetuado dentro de 15 dias. Só que passado já 5 meses, os autores NADA receberam.
O curador, Leonardo Albuquerque joga a culpa na Prefeitura de Porto Alegre, que também não se manifesta. Diz somente que “o processo contra a Prefeitura de Porto Alegre está tramitando na justiça, para pagar o artistas”. E só dá informações quando os artistas prejudicados entram em contato. E assim vai se levando infinitamente...
Gostaríamos que este descaso não passasse em branco e do apoio dos colegas da classe quadrinhística, divulgando em sites, blogs, facebook, fazendo matérias, etc... Também para que outros autores não caiam nesta furada, agindo de boa fé.
Obrigado pela atenção!
DEPOIMENTOS DOS ARTISTAS PALESTRANTES:
Alex Doepre, Carlos Henry e Denilson Reis. |
DENILSON REIS, roteirista e editor do fanzine “TCHÊ”, "QUADRANTE SUL” e “PERYC, O MERCENÁRIO”
“Em novembro fui convidado pelo Leonardo de Albuquerque para participar de um evento que ele denominou de 2ª Brasil Sul ComicCon. Comentou que estava organizando um grande evento, "o maior do Sul do país" - nas palavras dele - e queria que eu e o Grupo Quadrante Sul, que somos responsáveis pelo Mutação na Feira do Livro de Porto Alegre participássemos. Chegou falando da vinda de Mike Deodato e que teríamos um cachê de participação. Aceitei participar, até para poder estar em um "grande" evento e poder divulgar o meu trabalho. Tudo muito bom, tudo muito bem e até fiz um material de divulgação nos sites de quadrinhos e tal. Chegando no dia do "evento" percebi que estava a maior desorganização. Não havia um local adequado nos esperando, tivemos que montar tudo por nossa conta e ir se arranjando nos espaço. Procurei fazer o melhor possível, mas logo percebi que não havia nenhuma divulgação e o público sequer sabia o que estava acontecendo por ali. Ou seja, seria um "evento" sem a mínima divulgação. E como poderia ter público se as pessoas sequer sabiam o que estava acontecendo por ali? Além da infraestrutura que foi montada na hora e a falta de divulgação, também não havia perspectiva de receber a ajuda de custo para o deslocamento ao local e a alimentação. Teve um dia que tivemos que vestir uma camiseta de voluntário do evento, embora fossemos convidados do mesmo, para poder pegar uns “pilas” para comprar um lanche, muito chato e constrangedor. De qualquer forma, fui correto e participei do evento conforme o combinado, até para poder ter direito a receber o cachê combinado, e olha que não era nenhuma fortuna, apenas uns "pilas" para poder imprimir depois alguns fanzines. O maior problema para mim é que até o momento não vi um centavo do que foi combinado e o Senhor Leonardo andou postando umas mensagens dizendo que não vai mais se manifestar sobre o assunto e que tudo foi parar na justiça, sendo que não temos maiores e nem menores informações sobre o tal processo que a associação da qual o Leonardo faz parte fez contra a Prefeitura de Porto Alegre, que ele diz ser a vilã deste problema. Tudo muito lamentável!”
Carlos Henry e Cris Peters. |
CRIS PETERS, colorista da Marvel Comics
“Muitas são as pessoas que podem lhe oferecer convites para palestrar ou participar de eventos, e até mesmo lhe oferecem um cachê para que participes. Mas como acreditar, ou pressentir que na verdade esse convite não deve ser aceito? Como saber se o tal evento citado não será um vínculo desvantajoso? Como saber se não irão lhe passar a perna?
Venho aqui contar uma "historinha" e espero que seus detalhes ajudem todos a detectar uma furada.
Fui convidada para um tal "evento". Tudo nele me cheirou a furada desde o princípio. Mas mesmo assim quis dar o benefício da dúvida, infelizmente meu primeiro instinto estava mais do que correto. O evento foi amador, desorganizado e o meu prometido cachê não foi e nem será pago.
Eis as dicas que recebi de que o evento não era bem organizado:
- Dica #1: Ao ser convidada recebi um panfleto extremamente amador em material copiado a xerox amassado (o que acaba denotando falta de capricho do organizador);
- Dica #2: Ao explicar que teria de cobrar um cachê, recebi uma resposta positiva e rápida demais. O organizador não tentou ao menos negociar os valores. Sabemos que quem precisa administrar uma verba em um evento não pode dizer sim a qualquer exigência de convidado;
- Dica #3: a poucos dias do evento, o organizador me comunica que eu faria DUAS participações no evento. Sendo que meu cachê anteriormente combinado era para somente UMA participação. Como estava ocupada com meu trabalho, não pude discutir esse detalhe com ele e deixei por isso mesmo;
- Dica #4: Ao chegar ao local na data do evento para entregar meu material de exposição, nada estava montado ainda. Deixei meu material e expliquei como deveria ser exposto, pois possuía uma ordem. O organizador nítidamente não prestou atenção nas minhas instruções;
- Dica #5: A tal vernissage de abertura do evento não começou no horário determinado. Quando cheguei ao local, a montagem do evento estava amadora e não encontrei ninguém da organização. Ao ver meus trabalhos na exposição, eles estavam expostos na ordem errada. Neste momento, eu aceitei que aquele evento era uma furada e que eu não seria paga.
- Dica #6: Mesmo depois disso apareci nas duas palestras que participaria. Tenho minha palavra, e iria cumpri-la. Durante as minhas duas palestras (vazias) o organizador ficou abordando pessoas que passavam pelo local tentando convencê-las a assistirem. Foi bastante desagradável.
Enfim, no final da história, o organizador inventou uma historinha de que ele estava no meio de um processo judicial para conseguir verba para pagar os cachês, mas eu já tinha aceitado que não receberia nada. Obviamente não irei aceitar mais nenhum convite dessa mesma pessoa.
Eu recebi todos os sinais, fui em direção a parede sabendo que ela estava se aproximando e mesmo assim não desviei. Tive boa fé e isso não é um erro. Não perdi tanto tempo, não tive de viajar e conheci algumas pessoas legais.
A verdade é que é sempre importante averiguarmos o evento antes de aceitarmos um convite. Hoje, com o Facebook, podemos verificar os amigos que temos em comum com os organizadores para termos certeza de que não se trata de algum amador. Normalmente eventos com porte suficiente para pagar cachê tem site na internet e informações para serem investigadas pelo Google.
Acontece, infelizmente. Mas quem deve se sentir mal com isso sou eu por não ter sido paga, ou o organizador do evento por ter caloteado todo mundo?
Fernando Damasia, Professor Athos e Carlos Henry. |
FERNANDO DAMASIO, desenhista de “RIP REGAN, POWERMAN” e “DANGER: HIGH VOLTAGE”
No começo desse ano fui convidado junto com outros artistas a participar de um evento em Porto Alegre, Intitulado de 2º Brasil Sul Comiccon. Nesse convite constava que não gastaria com nada, no hotel teria café, almoço e jantar, teríamos transporte até o evento e cada artista receberia um cachê, com o valor combinado com o organizador e com a Prefeitura. Infelizmente, nesse país, “Ordem e Progresso” só se encontra na bandeira. Fomos enganados! No hotel só teria café da manhã, não havia um transporte até o evento e não nos foi pago o cachê, viajamos despreparados apenas com dinheiro para pequenas compras no evento como: revistas, lanche, etc. No meu caso, tive que me juntar ao meu editor e amigo Carlos Henry para podermos nos alimentar, comíamos um pouco a mais no café para não dar fome na hora do almoço e quando chegávamos do evento, procuramos um mercado e rachávamos pizza, outro dia frango com polenta, e todos os dias tínhamos que dividir o táxi também. Conhecemos um amigo, Professor Athos, que percebendo nossa situação e também tinha palestras a ministrar no evento, ele pagava o táxi para ir ao evento e nos convidava para ir com ele. Passaram-se 5 meses e nosso cachê não foi pago, o organizador só nos passa que a prefeitura não teria verba, e que estão processando a prefeitura. O organizador não passa o número do processo, nem o nome do advogado. Se existe esse processo, nosso nome está no meio, é nosso direito saber como está e é dever da organização nos passar alguma coisa concreta e não apenas palavras. Fomos prejudicados, deixamos trabalhos de lado para poder honrar esse compromisso com a organização e com a prefeitura de Porto Alegre, é nosso trabalho!!! Só queremos o que é nosso por direito, nada mais.
Carlos Henry: insatisfação com a organização do evento. |
CARLOS HENRY, criador do “LOBO-GUARÁ”, “CITY OF DREAMS” e editor do Selo “EXCELSIOR”
O Brasil Sul ComicCon na verdade, NÃO aconteceu!! Faltou organização, conhecimento de causa, produção, estrutura... tudo! O curador da exposição, que aconteceria dentro do Fórum Social Mundial, era Leonardo Albuquerque, que a toda hora culpava a Prefeitura de Porto Alegre pela falta de estrutura (isso, já tendo várias reuniões anteriores com a Prefeitura). Vamos por partes:
O EVENTO(?): Chamar de ComicCon um evento que tem 2 mesas e 2 placas de madeiras como expositores, com um caricaturista (Luca Risi) e outro só com um grupo (Quadrante Sul), sem editoras, nem gibiterias, nem cartazes, nem programação visual, nem exposição decente, nem artistas de peso, nem divulgação de mídia, enfim, sem nenhuma estrutura, é uma piada de MUITO mal gosto! Não teve nada de convenção, apenas um encontro de amigos que curtem quadrinhos. HOTEL: Tudo ok, porém, se combinou que haveria “alimentação completa garantida”, ou seja, café da manhã/almoço/jantar. Uma vez que o hotel só oferece café da manhã, a alimentação acabou ficando por minha conta. Eu e Fernando Damasio tivemos que procurar um lugar mais em conta pra nos alimentar.
CONDUÇÃO: Não tinha condução do hotel para o evento e vice versa. A minha sorte e do Fernando Damasio (desenhista de Rip Regan, Powerman, do Excelsior Webcomics) foi o Professor Athos, um dos palestrantes, garantir o táxi de ida. Na volta, eu e Damasio dividíamos a corrida do evento ao hotel. O Leonardo sequer apareceu no hotel, só ficando no evento, muitas vezes sem nenhuma ocupação.
ALIMENTAÇÃO DURANTE O EVENTO: também não teve. O que aconteceu foi uma “manobra” do curador, Leonardo Albuquerque, para recebermos um cachê como “voluntários”, ao invés de “palestrantes”. Algo inconveniente e vexatório. No dia posterior, nem mesmo os voluntários estavam recebendo.
VERNISSAGE: No dia da abertura da exposição, para minha surpresa, não tinha NENHUM banner ou indicação do evento de Quadrinhos dentro ou fora do Fórum Social-Mundial, nada! Descobri por acaso que a parte de Quadrinhos ficava no piso superior e lá tinha apenas duas mesas com duas placas de madeira com artes afixadas de Luca Risi e do grupo de quadrinhistas Quadrante Sul. Uma outra placa, pintada com uma mulher de perfil e com o nome “Brasil Sul ComicCon”, estava a frente. Na parte de artes visuais, no piso inferior, a vernissage acontecia, ao mesmo tempo que se acabava de montar a exposição; algo impensável.
DIVULGAÇÃO: Só houve divulgação na semana do evento, coisa que deveria acontecer no mínimo com um mês de antecedência. Também os modelos que iriam vestidos de personagens de quadrinhos, distribuindo flyers, não foram contratados.
PALESTRAS: Uma verdadeira bagunça. Um exemplo foi que, na hora da palestra do Professor Athos, outro grupo de pessoas usaria o espaço. Resultado: quando o professor já tinha começado, teve que interromper sua palestra e esperar. Um verdadeiro desrespeito. Eu estava comprometido com duas palestras mas, na programação interna, constava meu nome em outras, sem nem eu ter sido consultado. Não havia público, uma vez que não houve divulgação interna ou nada que indicasse que estava acontecendo uma palestra ali. Apenas amigos que se encontraram pra bater papo sobre HQ. Só cumpri com as duas que havia combinado. Espero ser pago, como combinado.
LANÇAMENTOS: Na minha palestra, haveria lançamento do meu livro “Super-Brazucas - o universo dos super-heróis brasileiros” e da revista indie “Excelsior Quadrinhos”. Bom, antes mesmo do evento, o Leonardo me falou que a Prefeitura não iria comprar exemplares do livro para venda, como havia combinado antes. E somente durante o evento, ele me falou que a Prefeitura não iria fazer a impressão da revista, como combinado antes. Enfim, minha ida a Porto Alegre só valeu por ter conhecido o Professor Athos, a Cris Peter, Fernando Damasio, Darlei Nunez e o pessoal do Quadrante Sul. De resto, foi um fiasco! Sorte tiveram Mike Deodato, Emir Ribeiro e Watson Portela que foram convidados e não entraram nesta furada, já que viram que não valeria a pena...”
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O Tinta Nankin não condena nem absolve ninguém envolvido nesse acontecimento, mas segundo os depoimentos dos artistas envolvidos, amadorismo e descaso por parte da organização marcaram negativamente a cena da HQB gaúcha. O Tinta Nankin se solidariza com os artistas e espera que tudo se resolva o mais rapidamente possível. E democraticamente abre espaço para as explicações da organização do evento.
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